sábado, 3 de janeiro de 2009

Tu que és poesia…

Também eu quero ser poesia um dia... Atingir a perfeição no espírito humano e ser lembrado palavra por palavra por páginas soltas em todas as almas...
Cantar as minhas glórias fracassadas e os meus fracassos gloriosos...
Chorar os amores amados e as paixões odiosas assim como os ódios apaixonados que me puxam para a frente centímetro a centímetro quilómetros sem fim... arrastado pelo chão de navalhas como se arrasta um trapo pela terra e se pisa sem pensar que pode ter vida...
E eu tenho vida... eu sou o trapo vivo... o lixo que respira... a morte que nasce do nada para o todo... Eu sou a terra que se torna barro e o barro que se fez homem a imagem de si próprio tal como deus escultor e artesão de vidas, almas e espíritos sem fronteiras sem bandeiras, sem limites e sem nome...
Quero ser eu... o deus André que cria vida na sua vida e afasta a morte enquanto a segura com firmeza nos dedos sem se cansar e sem a deixar escapar das mãos ate ao ultimo suspiro ate ao ultimo bater de coração ate ao ultimo pensamento... ate ao ultimo sentido... eu seguro a morte junto da vida com todo o corpo num abraço junto-as e obrigo-as a amar-se... morte e vida repelem-se e lutam contra mim...
É essa a força de dois pólos que me faz viver a morte como filosofia de vida e morrer para a vida em meu redor... sou esquecido e afastado, cortado e queimado tal como membro a amputar ou tecido morto e eliminar... sou uma infecção mental para todos os que sentem a minha mente escapar-se-lhe entre os dedos ao ser tão escorregadia... a frustração de apanhar areia... os grãos tão pequenos dos meus sonhos e ideias que acabam por engolir os que me querem pisar sem precaução... sem caução... sem pagar o preço da minha vida e sem alugar a chave da minha mente... são esses que me batem nas portas da alma para entrar e me magoam por fora... Mas por dentro... hhaaaa... por dentro é tudo escuro e igual ao que sempre foi... negro e desarrumado... mas é nesta escuridão que eu fecho os olhos e descanso... e é nesta confusão em que eu mais depressa encontro o que procuro... pois tudo esta espalhado pelo chão... e não há nada que eu não alcance ao me baixar...
Ao voltar a terra...
ajoelhar-me...
Para pedir perdão a mim próprio...
É ao estar curvo...
Ao louvar a minha alma de deus...
É nesse momento de oração pagã que encontro um papel perdido com a resposta...
É no chão que encontro as minhas poesias perdidas... os meus papéis eternos... a minha escrita desvairada e os meus pensamentos mais perfeitos... puros... insanos... honestos... loucos... verdadeiros... macabros... límpidos... obscuros...

Eu sou eu... tu és poesia... tu és perfeita... e eu sou apenas... eu...

Obscuramente
(André Afonso)

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